V.24. Setenta semanas estão determinadas: sobre o teu povo e tua santa cidade,
para fazer cessar a transgressão
e para dar fim aos pecados
e para expiar a iniquidade:
e trazer a justiça eterna
e selar a visão e a profecia
e para ungir o Santíssimo.
O Qere é seguido em dois casos, i.e., “completar” ( לְהָתֵם ) para “selar” (לַחְתֹּם),
e o singular “pecado” ( חטאת ) para a forma do plural ( חטאות ); também o artigo na
palavra “transgressão” ( הפשע ) é elidida.
A exibição das cláusulas acima no gerúndio representa o progresso do
pensamento: primeiro o tema reiterado do preenchimento da medida do pecado
conforme 8: e, em seguida, a consumação do propósito divino e trazer a justiça eterna.
A expressão setenta semanas ocorre com este significado ao longo dos Jubileus,
na Mishná, Sanh, 5, 1, etc. Assim, o termo é 490 anos. A expressão: “são decretadas” se
trata de um hapax legomenon no Antigo Testamento, mas é encontrada no Talmude.
Pode se notar que Teodocião traduziu συνετμήθησαν (completo), o qual a versão
antiga latina traduziu para são encurtados, e a Vulgata fez uso pelo padrão abbreuiatae,
“são encurtados.”
“sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade”: A versão Arábica usou o vocábulo
“contra” (‘ala) no sentido de débitos judiciais. Sobre o pronome Jerônimo e depois
Eusébio Dem. ev., iii, 2, observaram que eles estão em paralelo com Dt. 32:7.
“e para expiar a iniquidade”: o vocábulo “expiar” כַּפֵּר , como também ,צֶדֶק
“justiça,” a próxima cláusula, são termos legais.
As versões de Áquila e a de Teodocião parecem ter lido לְהָתֵם no lugar de ,לַחְתֹּם
a variação permite que os dois verbos sejam traduzidos “por completar,” ou então eles
deram esta interpretação de לְהָתֵם para visão e profecia como uma hendíadis= “visão
profética.”
“e para ungir o Santíssimo”: Literalmente, “santo dos santos.” O termo é usado
sempre de coisas sacrossantas ou lugares: da tenda da reunião, o templo, do território
pertencente ao templo, os altares, os vasos sagrados, incenso etc.
Para a unção como o ato de consagração como Ex. 29:36, 30:26, 40:9, onde a
prescrição da unção sempre precede uma alusão ao santo dos santos.
A Igreja compreendeu a expressão ἅγιον ἁγίων da Septuaginta e Teodocião
(entretanto versões gregas e o Antigo Testamento usam essa forma ἅγια ἁγίων
frequentemente) como masculino e se referindo a Cristo; assim Hipólito iv, 324, ἅγιος
δὲ ἁγίων οὐδείς, εἰ μὴ μόνος ὁ υἱὸς τοῦ θεοῦ, e versões em latim como Tertuliano
relatam: ungatur sanctus sanctorum = a Vulgata e assim, definitivamente, na versão
Siríaca למ׳) למשיהא קדוש קודשין o texto em hebraico relata למשח ) “o Messias, o
Santo dos Santos.”
Esta interpretação messiânica foi, em geral, adotada por Lutero (Luther’s German
Version), Calvino, etc. Áquila possivelmente favorece-o com a ἡγιασμένον
ἡγιασμένων. Ibn Ezra identifica “santo dos santos” como o Messias já Schöttgen,
Horae hebr., 2, 264, cita Nachmanides: “O santo dos santos é nada mais do que o
Messias, o santificado, dos filhos de Davi.” Rabino Beir, xiv, 18, relata: “Que é a Justiça
Eterna? o Rei Messias” (citado por D’Envieu 2, 909). Deve ser notado que o vocábulo
קדש , “santo,” no versículo 26, se refere ao santuário.
V. 25. Sabe e entende.
Esta solicitação dá abertura a revelação. Os dois verbos (saber e entender)
praticamente são sinônimos. Segue-se na análise das 70 semanas em três períodos:
1. O primeiro período de sete semanas.
a) “Desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao
Ungido, ao Príncipe, sete semanas”. A ordem aqui se refere ao vocábulo “palavra” o
qual se refere ao versículo 2 aonde a “palavra do Senhor veio a Jeremias”.
Temos aqui um exemplo notável de uma dupla interpretação de uma profecia:
Jerônimo informa que a profecia da restauração se cumpriu no retorno do período
Persa o qual ele sugere o cálculo deste período em 7 × 7 = 49 anos.
Já outros interpretam a interpretação de Jeremias de 70 anos simbolicamente
como 70 semanas. A felicidade prometida pelo profeta na consumação dos 70 anos
tinha notoriamente não a de uma consumação; pois seria necessário encontrar um
significado secundário final — um processo de teoria interpretativa que tem sido
abundantemente ilustrada desde então na interpretação desta passagem.
A interpretação segue a pontuação da massora massorética, que coloca o athnaḥ
no vocábulo “sete.” Mas algumas versões como a Septuaginta (27a), Teodocião, Siríaco
e Vulgata, interpretam “7” e “62” como um numeral, seguida pelas versões Luther’s
German Version e King James’; e em seguida algumas versões enfatizam essa
combinação, inserindo um “e” antes da próxima frase.
Mas porque foi deixado 7 + 62? É interessante que os exegetas cristãos
mantiveram a verdadeira sintaxe da passagem. A Septuaginta fez uma bagunça
confundindo os vocábulos ים שָׁבֻ ִ “semanas” e ים שִׁכְ ִ “setenta” por ser semelhante.
b) “até ao Ungido, ao Príncipe” נָגִיד & ד מָשִׁי ַ ַ : A história da interpretação dessa
expressão é marcada por várias versões.
A Septuaginta expressa apenas o segundo termo נָגִיד = κύριος. Já Teodocião
relatou: ἕως χριστοῦ ἡγουμένου (até o ungido da liderança); Siríaco “até o Rei
Messias”; Vulgata ad Christum ducem (até Cristo o líder); Luther’s German Version:
‘auf den Christum, den Fürsten’ (ao Messias o príncipe); King James: “unto the
Messiah, the Prince” (até ao Messias, o Príncipe); versão judaica até “um ungido, um
príncipe”.1 Os substantivos, como a versão judaica indica, são anarto. “Messias” é
epíteto de rei, sacerdote (2 Mac. 1:10), profeta e até mesmo de Ciro (Is. 45:1).
O termo “príncipe” qualifica o primeiro e é usado por oficiais de patente: como
um chefe entre os funcionários, especialmente no templo, 11:22; sumo sacerdote; de
nobres ou príncipes (Jo 29:10, 31:37). Entretanto os dois termos são ambíguos, e sua
combinação não auxilia a identificação, para o qual foram propostos dois candidatos:
Ciro, o “ungido” de Is. 45:1; e Zorobabel, o aclamado Messias da Restauração; com seu
contemporâneo, o sumo sacerdote Josué.
Se o vocábulo מָשִׁי ח do versículo 26 for um sumo sacerdote depois Onias III, é
razoável atribuir o título aqui a uma das linhagens sacerdotais, daí a Josué, com a
inclusão dos príncipes seculares. O interesse do escritor reside não na linhagem real
legítima, mas na manutenção do culto. Os ritos foram suspensos em 586 com a
destruição do templo, e foram retomados em 538, i.e., cerca de 49 anos.
26, 27. O terceiro e último período de uma semana.
26a E depois das 62 semanas será cortado o Ungido [literalmente]. O verbo
“cortar” ( כרת ) é usado de destruição de pessoas, conforme Gen. 9:11, e tecnicamente da pena de morte, Lev. 7:20, etc. O sujeito משיח “ungido” é novamente anarto e utilizado
como título. A interpretação aqui sugeriu o martírio do sumo sacerdote Onias III, que
foi assassinado por seu rival em Antioquia, 2 Mac. 4:23–28. A expressão seguinte,
traduzido literalmente por cima, וְאֵין לוֹ , pode significar “e nada tem” ou “sem nada”.
26a. [יכרת
מָשִׁי ח = é igual a Septuaginta e Teodocião que registram χρίσμα, como מֶשַׁח , e esta
tradução foi continuado pelas versões gregas e vários comentários.
Josefo identifica este evento com a morte do último sumo sacerdote Anás, (B.J.
iv, 5, 2).
Eusébio, identifica-o com sumo sacerdote Hircano assassinado no tempo de
Herodes (Dem. ev., viii, 2).
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1 ‘Jewish Version,’ i.e., The Holy Scriptures acc. to the Massoretic Text, Philadelphia, 1917.
Mas os Pais das Igrejas aderindo às obras de Teodocião utilizaram o vocábulo
χρίσμα remetendo a questão do termino dos ritos judaicos após o advento de Cristo.
Assim Tertuliano relatou: “debellatis Iudaeis postea cessauerunt illic libamina et
sacrificia, quae exinde illic celebrari non potuerunt; nam et unctio illic exterminata est
post passionem Christi” (Adv. Jud., viii).
Também Policarpo fez uso do vocábulo com o seguinte registro: o “crisma”
significa “o sumo sacerdote”, que cessaria seus trabalhos com a destruição de
Jerusalém.
וְאֵין לוֹ ] Áquila traduz essa expressão para: καὶ οὐκ ἔστιν αὐτῷ (); Simaco, κ. οὐχ וְאֵין לוֹ
ὑπάρξει αὐτῷ (); a Septuaginta κ. οὐκ ἔσται = וְאֵיגֶנוּ . Teodocião κ. κρίμα οὐκ ἔστιν ἐν
αὐτῷ.
26b. e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu
fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas.
“um príncipe que há de vir” segundo o texto hebraico, deve ser um príncipe hostil, e
o qual foi identificado pelos judeus, e segundo a Patrística foi identificado como um dos
conquistadores romanos, pelos judeus como Vespasiano ou Adriano, por outros
Pompeu, Herodes Agripa (Fraidl, Exegese d. Siebzig Wochen, pp. 38, 91, 93).
27. A última semana e o fim.
Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará
cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o
assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.
27a. “na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares” = 3½
anos, corresponde aos 3 anos em que o templo sofreu sacrilégio (Antiguidade Judaicas
168–165 e 1 Mac. 1:54 ff. e 4:52 ff.). Se considerar que a presente declaração é
profética ou post eventum, a identificação se encaixa de forma satisfatória com alusão
ao período dos Macabeus (1 Mac. 1:10 ff). A data da ascensão segundo a Antiguidade
Judaica refere-se aos renegados judeus que receberam licença especial do rei cerca de
170 a.C.
27b. A próxima cláusula contém uma palavra obscura que é ainda mais complicada
por uma sintaxe ininteligível no aparato massorético (M) o texto no aparato massorético
é expresso em outras versões com o seguinte significado: “e sobre a asa das
abominações virá o assolador”.
O vocábulo “asa” é atestado por Símaco e a versão Siríaca כְּנַף (estado construto)
[ἐπὶ] τῆς ἀρχῆς τῶν βδελυγμάτων (); e o Siríaco “sobre as asas da abominação”; todas
as outras autoridades tratam a palavra como “absoluto”. Apenas algumas versões fazem
uso da palavra “asa”, contida na variante de Teodocião que relata a seguinte oração:
ἕως πτερυγίου ἀπὸ ἀφανισμοῦ.
________________________________
M Massoretic apparatus to H.
A expressão “sobre a asa” em outras versões foi alterada conforme a Septuaginta,
Teodocião e o Códice Vaticano os quais traduziram para ἐπὶ τὸ ἱερόν (sobre o templo) o
qual a Vulgata fez uso in templo, mas a simplicidade de tal reversão não oferece
nenhuma garantia quanto à sua correção, apenas para não tirar a credibilidade de Mt.
24:15, que inseriu a expressão ἐν τόπῳ ἁγίῳ (no lugar santo) o qual é uma paráfrase o
qual discorda em paralelo com Mc. 13:14 que relata ὅπου οὐ δεῖ, (onde não devia estar).
“Abominação”. Outras versões relataram “Abominação da Desolação”, é, sem
dúvida, um jogo de palavras satírica do Hebraico. O original aqui é ,שִקּוּצִים מָשמֵם
comparando com 11:31, 12:11, há variantes indicando a seguinte leitura 2. שקוץ שׁמֵֹם
É um substituto de desprezo para o nome da mais alta divindade pagã, em fenício
בעל שמם (Baal šamem), “o Senhor do céu”, aparecendo no Aramaico da seguinte
forma 3.בעל שמין
Filo de Biblos (Eus., Praep. evang., i, 10, 7) diz: “esse deus que nomearam Senhor do Céu, chamam-no de βεελσαμην, que no Fenício é Senhor do Céu, e no grego Zeus.” ‘Ba˓al’ foi substituído pela expressão שקוץ “abominação” um termo comum de ódio de um símbolo pagão (1 Rs. 11:5), etc.; este termo substituindo ‘Ba˓al’ como aqui para בּשֶׁת “vergonha” muitas vezes o faz em outros lugares, em nomes próprios, como, Mefibosete, e em passagens como Jeremias 11:3, onde há um paralelismo entre בשת e בעל que está presente no texto. O equivalente exato aparece em 8:13 .הפשע שומם
“até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele”: Uma
maneira ambígua de afirmar o destino esperado para acontecer com o arqui-inimigo. O
verbo derramar conforme o versículo 11 é também usado da operação da ira divina,
como o derramamento de fogo. As palavras iniciais constituem um hendíadis, “um fim
determinado,” são citados a partir de Is. 10:23, 28:32.
A interpretação cristã da cronologia do versículo 25 foi totalmente deturpada pelo
erro cometido por Teodocião na interpretação das Semanas “7” com as “62” semanas
seguintes, como se 69 semanas fossem a primeira figura pretendida.
Jeronimo infelizmente seguiu o trabalho de Teodocião em perpetuar esse erro na
Igreja Ocidental, e seus vestígios ainda são encontrados em várias versões.
A tradução de Teodocião e a Vulgata estava de acordo com as interpretações
judaicas e cristãs que encontraram o cumprimento da profecia nos eventos do 1 ª século a.C, e assim precisava de uma figura maior do que as 62 semanas = 434 anos para encher o interino.
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2 Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft, 1884, pag 248.
3Lidzbarski, Nordsemitische Epigraphik, 239, Eph., 2, 122, Baethgen, Beiträge, 23 ff., Montgomery,
Journal of Biblical Literature, 28, 66 ff., etc
Mas tomar 538 a.C como ponto de partida para o cálculo destes 434 anos, se
obtém 105 a.C, uma data impossível para qualquer coisa de valor profético.4
Pode se identificar satisfatoriamente o “ungido” com o sumo sacerdote Onias III,
que foi assassinado quando convidado a corte de Antioquia (2 Mac. 4:7-38), que
aconteceu cerca de 171 a.C
A Semana, então, encerra prospectivamente mais ou menos na época em que o
templo foi recuperado e purificado pelos judeus, 165 a.C, e a metade da semana que
representam os três anos da profanação do templo, 168-165 a.C.
1. A interpretação contemporânea. A primeira interpretação imediata dessa
passagem é em 1 Mac 1:54: “no dia 15 de kislev o ano de 145 onde a abominação da
desolação estava sobre o altar (βδέλυγμα ἐρημώσεως ἐπὶ τὸ θυσιαστήριον).
O segundo ponto está nas visões de Enoque, capítulos 85–90, presente, 89: 68–
90:27, uma série de 70 pastores que cobre o período desde a destruição de Jerusalém até o Reino messiânico; esses pastores são, evidentemente, distribuídos da seguinte forma: o Cativeiro 12, a idade do império Persa 23, a idade de Alexandria-ptolomaica (cerca 200) 23, A idade Síria 12 (o caráter arbitrário desta série numérica é óbvio). Tem-se aqui, então, uma réplica evidente das 70 semanas, com o mesmo prazo.
No versículo 26 a Septuaginta omitiu o vocábulo “semanas” 1o e em seguida lê “7
e 70 (i.e., שָׁבֻעִים lido como שִׁבֻעִים ) e 62”; esta interpolação da variante é repetida no
versículo 27 pela Septuaginta, “após 7 e 70 e 62 anos,” sendo especificados 139 anos.
Em geral, então, a interpretação mais antiga das 70 semanas identifica o seu
clímax com a perseguição de Antioquia.
O primeiro a aplicar a passagem para a destruição de Jerusalém em 70 d.C é feito
por Josefo.5
Referências citadas:
4 Eusebius, l.c., in one of his calculations, boldly accepts the consequence of dating 69 Weeks from year 1
of Cyrus to the death of the Hasmonæan prince Alexander Jannæus, 76 B.C., and understands the
prediction of this terminus event as of the prelude of the anarchy which ushered in the Roman dominion.
5 Fraidl , pp 18-23 , discute a possível reff
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